VIH não é transmissível por pessoas em tratamento: GAT e SER+ lançam nova campanha de sensibilização

22 Maio 2024

Cinco histórias reais registadas em vídeo dão corpo à nova campanha do CAD - Centro Anti-Discriminação VIH e Sida (GAT e SER+), que tem como objetivo dar a conhecer a evidência científica de que pessoas que vivem com VIH não transmitem o vírus quando estão em tratamento, por terem carga viral indetetável.

O Centro Anti-Discriminação VIH e Sida (CAD) lança hoje uma nova campanha que destaca a importância do tratamento eficaz do VIH na prevenção da transmissão do vírus, quebrando com a ideia errada e estigmatizante de que as pessoas que vivem com VIH são transmissoras do vírus mesmo quando estão em tratamento.

Há mais de 20 anos, os primeiros estudos científicos relataram casos de não transmissão do VIH em casais serodiferentes (onde um dos parceiros vive com VIH e outro não) quando a carga viral é baixa. Desde então, e principalmente após a impactante confirmação num estudo publicado em 2016, dados científicos amplamente verificados dizem de forma inequívoca que quando a pessoa que vive com VIH está em tratamento eficaz, não transmite o vírus.

Esta evidência científica fez surgir o conceito Indetetável = Intransmissível, também conhecido como "i=i". Indetetável significa que a carga viral, ou a quantidade de vírus no sangue, é muito baixa, enquanto Intransmissível significa que, quando a carga viral é Indetetável, ou seja, suprimida, o VIH não é transmitido.

Se esse facto científico ainda é pouco divulgado no campo do VIH, é praticamente desconhecido pela população em geral. Após o sucesso da campanha "Eu sou VIH+ e Visível", lançada em 2022, o CAD continua a dar voz às pessoas com VIH e dá agora visibilidade às redes de sociabilidade, através de cinco conversas sinceras e abertas registadas em vídeo, nas quais casais, colegas de trabalho, pessoas amigas, familiares e profissionais de saúde partilham as suas experiências e visões sobre a vivência com pessoas com VIH, destacando como a evidência científica "Indetetável = Intransmissível" mudou as suas vidas.

“Estas conversas mostram que as pessoas com VIH não estão sozinhas, que a informação é poder e que é também responsabilidade de quem não vive com VIH saber mais sobre o vírus e travar de vez o preconceito e a discriminação. O tratamento eficaz do VIH permite que as pessoas vivam vidas longas e saudáveis, evitando a transmissão do vírus por via sexual e por outras vias. Infelizmente, são poucas as pessoas que partilham este conhecimento", lamenta João Brito, coordenador do CAD, e explica que "as pessoas que vivem com VIH ainda são discriminadas em muitas áreas por causa do medo do VIH que foi instalado durante os anos sombrios da epidemia, mas é tempo de quebrar com esse paradigma”.

"A formação é também essencial para erradicar os contextos discriminatórios, e por isso temos alertado ao longo destas décadas para a importância de o Estado e as instituições investirem em ações de formação e capacitação não só das comunidades que vivem com VIH, como da população em geral, quebrando mitos, crenças e atitudes sociais estigmatizantes", acrescenta Ana Duarte, coordenadora do CAD e responsável pela área da formação.

A campanha está disponível em cad.vih.pt/transmissivel e nas redes sociais do CAD e do GAT:

 

AS HISTÓRIAS REAIS

Rodrigo Malafaia e Leandro Buenno - Transmissível é o amor
História disponível a 23 de maio

Leandro Buenno (30 anos, artista) e Rodrigo Malafaia (33 anos, modelo) são um casal serodiferente: Leandro vive com VIH desde 2017 e Rodrigo é o seu marido, que é seronegativo para o VIH. O casal brasileiro escolheu viver em Portugal depois de passar a sua lua de mel no país. Ambos têm grande presença no mundo mediático: Leandro participou no The Voice Brasil e o seu coming out teve grande impacto. Enquanto modelo e influencer, Rodrigo impacta vidas também por todo o mundo.

Nesta sua conversa, explicam-nos como a intransmissibilidade do vírus fê-los viver em maior liberdade e sem medos, reforçando ainda mais o amor que sentem um pelo outro. A visibilidade que dão à sua relação enquanto casal transformou-se numa poderosa ferramenta de informação e combate ao estigma junto de milhares e milhares de pessoas por todo o mundo.


Paolo Gorgoni e Alaiane Guterres - Transmissível é a segurança

História disponível a 30 de maio

Paolo Gorgoni (38 anos, artista e ativista) e Alaiane Guterres (24 anos, nutricionista) são dois colegas de trabalho na área da restauração que se conheceram em Lisboa e partilham não só o elemento comum de serem pessoas migrantes (Paolo é italiano e Alaiane brasileira), como também o ativismo e sentido de missão na luta constante pela garantia dos Direitos Humanos. Paolo vive com VIH, Alaiane não. De Itália até Portugal, o ativismo feminista de Paolo e em prol dos Direitos LGBTI, sensibilização para o VIH foram e são fundamentais quer no contexto social e comunitário de ambos os países, quer em contextos individuais.

Na sua conversa, Paolo e Alaiane demonstram de forma simples e honesta como a construção partilhada de espaços seguros e informados pode ser a peça-chave para que as pessoas com VIH se possam sentir livres para partilhar a sua história e (con)viver sem o medo constante da discriminação.


João Antunes e Cristina Calca - Transmissível é a paixão
História disponível a 6 de junho

Cristina Calca (53 anos, colaboradora da Associação Abraço) e João Paulo Antunes (53 anos, profissional na área da conservação e restauro) são um casal e vivem ambos com VIH.
Conheceram-se aos 16 anos e reencontraram-se 30 anos depois, já com diagnóstico de VIH que resultou numa luta pela sobrevivência que os aproximou.

Nesta conversa, falam sobre como, apesar do medo, os tratamentos antirretrovirais atuais lhes permitem saber que a sua esperança média de vida é semelhante à de uma pessoa sem VIH e como confiar na ciência é o passo certo rumo ao fim do preconceito.

 

Catarina Esteves e Maria João Brás – Transmissível é a empatia
História disponível a 13 de junho

Maria João Brás (51 anos, coordenadora de projeto e mediadora de pares na Associação Positivo) e Catarina Esteves (43 anos, Enfermeira Especialista em Saúde Mental / Consulta de VIH no Hospital de Cascais) são duas vozes históricas no combate à discriminação das pessoas que vivem com VIH em Portugal. Maria João é mãe, ativista e vive com VIH, tendo recebido o diagnóstico quando estava grávida do seu filho, em 1995. Catarina Esteves é uma profissional de saúde que vive sem VIH, mas que acompanhou centenas de pessoas e famílias nesta área ao longo do seu percurso profissional de mais de 20 anos.

A maternidade é um dos grandes focos da conversa que partilham connosco e que nos faz viajar pela própria história do vírus no nosso país – desde o profundo desconhecimento e implantação do medo na década de 80 a um presente em que finalmente sabemos ser possível envelhecer com VIH e viver uma vida plena enquanto mulheres e mães – também no que toca à gravidez, parto e amamentação –, graças ao avançar do conhecimento científico e à eficácia dos tratamentos.


Emanuel Caires e Bernardo Silva – Transmissível é a família
História disponível a 20 de junho

Emanuel Caires (31 anos, assistente de comunicação no GAT) e Bernardo Silva (32 anos, assistente de passageiros no aeroporto de Lisboa) são madeirenses e amigos desde a juventude. Emanuel Caires vive com VIH desde os 18 anos e Bernardo acompanhou a espiral de dúvidas e incertezas que assolou Emanuel naquele ano em que recebeu o diagnóstico. Apesar de não viver com VIH, Bernardo percebeu que conhecer todas as evidências sobre o vírus e dar voz ao orgulho mútuo seria fundamental para manter esta amizade, tendo tido abertura para procurar e receber informação. Por sua vez, Emanuel desenvolve um trabalho ativista de informação e de quebra de estigmas e preconceitos sobre VIH e IST nas redes sociais.

Num contexto social no qual as “famílias de sangue” ainda não são um espaço totalmente seguro para as pessoas LGBTI e/ou que vivem com VIH, Emanuel e Bernardo falam-nos sobre como é possível escolher uma família no seio das amizades e sobre como o conhecimento é fundamental para o empoderamento de quem ainda vive sob as teias do medo e do silêncio.