
O que acontece no IN-Mouraria quando se desenha?
05 Abril 2017Sou a Clare, tenho 26 anos e vim do Reino Unido para Lisboa em setembro. Atualmente dou aulas de inglês e já trabalhara como professora em Londres. Por esse motivo, quando me ofereci como voluntária no IN-Mouraria propuseram-me que ensinasse inglês. Embora as aulas não fossem nem tradicionais nem formais, notei que não havia muito interesse e que não se aprendia muito. Então decidimos experimentar outra coisa. Gosto muito de desenhar, sobretudo nus e costumo combinar com os meus amigos para nos desenharmos uns aos outros.
Já antes tinha feito voluntariado com sobreviventes de lesões cerebrais, muitas vezes de acidentes vasculares cerebrais ou de traumatismos físicos. Havia nesse centro um espaço para criação artística, que tinha um ambiente tranquilo e produtivo, cheio de arte especial e maravilhosa. A arte era uma forma de expressão para pessoas a quem, muitas vezes, faltavam as ferramentas que habitualmente usamos para comunicar.
Levei então o meu caderno dos desenhos para o IN-Mouraria para perceber se alguém quereria desenhar comigo. Viram a novidade com interesse, e muitas pessoas disseram que gostavam de desenhar, ou que o tinham feito no passado. Alguns tinham os seus desenhos consigo e mostraram-mos. Na semana seguinte, quando voltei com os meus materiais e comecei desenhar, algumas pessoas juntaram-se a mim, enquanto outras apenas observavam. Semana após semana, continuámos a desenhar juntos. As pessoas que conheço no IN-Mouraria desenham com muito mais criatividade e alma do que eu. Desenham o que querem e eu quero que sejam totalmente livres.
Penso agora em levar outros estímulos, como livros de arte, para tirar ideias, e também no futuro gostava de fazer uma exposição com os nossos desenhos. Sinto-me feliz a desenhar no IN-Mouraria e sinto satisfação por saber que o desenho cria um ambiente tranquilo no centro. Nunca entrara num sítio como o IN-Mouraria e tem sido muito interessante conhecê-lo. Aconteceu o mesmo com o voluntariado que fazia em Londres e acontece o mesmo com qualquer outro grupo de pessoas: inicialmente entras num grupo de desconhecidos, o que pode ser difícil, e depois crias relações e curtes.
Clare Fanthorpe
Voluntária no IN-Mouraria