Pessoas idosas com VIH: GAT subscreve Manifesto de Glasgow

05 Janeiro 2023

PREÂMBULO
Na Conferência Internacional SIDA2022, em Montreal, Canadá, nós - pessoas idosas e a envelhecer que vivem com VIH, sobreviventes de longo prazo do VIH/SIDA e os nossos aliados de todo o mundo - reunimo-nos na Silver Zone, o primeiro espaço de criação de rede dedicado a nós. A nossa luta de 6 anos por visibilidade nesta Conferência Internacional é representativa dos desafios que enfrentamos todos os dias para ter a nossa experiência de vida reconhecida e as nossas necessidades atendidas pelos nossos pares que vivem com VIH, pelas nossas organizações comunitárias, pelas nossas equipas de saúde, pelos nossos governos oficiais e líderes globais na resposta ao VIH.

Idosos com VIH NÃO SÃO danos colaterais a serem deixados para trás na busca por “acabar com a epidemia de VIH”. Somos uma maioria silenciosa. Em 2020, havia cerca de 7,5 milhões de nós (com mais de 50 anos) em todo o mundo. Cerca de 40% de nós que vivem em países ricos terão pelo menos 60 anos dentro de uma década e, até 2040, mais de 9 milhões de nós que vivem com VIH na África subsaariana terão mais de 50,4 anos. Se falarmos em uníssono, não podemos ser ignorados/as.

Os nossos corpos, corações, mentes e bolsos revelam cicatrizes conquistadas na construção da resposta moderna ao VIH. À medida que envelhecemos, muitos de nós vivemos com múltiplas condições crônicas de saúde, lidando com fragilidade, incapacidade e/ou alterações cognitivas, tornando-nos mais isolados socialmente e enfrentando preconceito em função da idade, além do estigma pelo VIH e outras formas de discriminação. A nossa independência, qualidade de vida e longevidade estão comprometidas, mas a resposta ao VIH não evoluiu conosco. Já é hora de afirmarmos os nossos direitos à saúde, dignidade e apoio!

Acesso a cuidados de saúde equitativos para pessoas idosas e a envelhecer que vivem com VIH só serão possíveis se trabalharmos em colaboração. Aqueles de nós com experiência de vida e conhecimento de vida devem estar no centro de qualquer decisão ou ação tomada em resposta às nossas necessidades autoidentificadas. Apelamos aos profissionais de saúde, investigadores, organizações comunitárias de VIH, provedores de linha de frente de serviços relacionados ao envelhecimento e formuladores de políticas e decisões para trabalhar em parceria connosco para financiar e implementar as seguintes ações:

Nós, pessoas idosas e a envelhecer que vivem com VIH, pedimos:

CUIDADO

  1. Cuidados personalizados. Trabalhem conosco para desenvolver novos modelos de atendimento a pessoas idosas e a envelhecer vivendo com VIH que respondem pela complexidade social e de saúde que vivenciamos. No mínimo, este modelo deve ser multidisciplinar, integrado, proativo e preventivo, e organizado em torno de nossas prioridades. Nós precisamos de mais tempo com os nossos prestadores de cuidados.
  2. Cuidado integral. Exigimos acesso a serviços e tecnologias que possam ajudar a prevenir e reduzir o impacto incapacitante de doenças crónicas, fragilidade e alterações cognitivas (por exemplo, serviços de reabilitação, visão e cuidados auditivos, odontologia, serviços de saúde mental, aparelhos de mobilidade/audição/visão, suportes cognitivos, cuidados pessoais, apoio domiciliário para as atividades da vida diária, etc.) independentemente da nossa capacidade de pagamento.
  3. Acesso aos cuidados. Insistimos em cuidados e serviços de baixo custo, sejam eles prestados na clínica, comunidade, ou virtualmente. Temos direito a acomodações razoáveis.
  4. Cuidados de envelhecimento seguros. Exigimos que indivíduos e organizações que prestam cuidados e serviços a pessoas idosas adultas sejam bem informados sobre o VIH, as experiências vividas por pessoas que vivem com o VIH há muito tempo, as nossas necessidades de apoio distintas como idosos vivendo com VIH e o impacto do estigma do VIH. Indivíduos e organizações que fornecem cuidados e serviços sobre VIH devem ser igualmente conscientes e renunciar ao preconceito com base na idade. Exige-se educação dos provedores de serviços sobre as nossas necessidades clínicas e sociais para nos apoiarem melhor. Nós temos o direito a cuidados respeitosos, informados e sem discriminação.

QUALIDADE DE VIDA

  1. Dignidade. Contamos que nossa saúde sexual seja considerada uma parte vital de nossa saúde geral.
  2. Respeito pela nossa experiência de vida. Somos autoconscientes, assumimos a responsabilidade pelo nosso bem-estar e demonstramos grande resiliência, tendo desenvolvido estratégias eficazes para a manutenção do bem-estar face à adversidade. Queremos que prestadores de cuidados e investigadores nos questionem sobre a nossa qualidade de vida e que priorizem o que consideramos mais importante.
  3. Respostas comunitárias de afirmativas da idade. Instamos as organizações de HIV a abordarem o preconceito de idade; que trabalhem conosco para desenvolver respostas que sejam relevantes para nossas necessidades, incluindo companheirismo e apoio entre pares; e que promovam a compreensão intergeracional e a construção de comunidade.
  1. Condições de vida saudáveis. Exigimos que o nosso direito a um padrão de vida adequado e proteção social, conforme garantido pela Convenção das Nações Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (Artigo 28) seja realizado. Instamos os decisores políticos a responderem às necessidades não atendidas das pessoas idosas ou a envelhecer, dentro das suas jurisdições, que lutam para pagar por habitação adequada, alimentação e/ou outros recursos para fazer frente a problemas de saúde relacionados com o VIH.

 EMPODERAMENTO

  1. Investigação e educação direcionadas. Esperamos que as pessoas idosas e a envelhecer estejam representadas em todas as investigações sobre VIH e que as pessoas que vivem com VIH sejam incluídas nas investigações sobre envelhecimento, para que tenhamos clareza sobre o que as descobertas significam para o nosso bem-estar. Insistimos em mais investigações focadas em VIH, envelhecimento e idosos, que respondam às prioridades identificadas pela nossa comunidade. Exigimos acesso às informações mais atualizadas sobre envelhecimento com VIH, para podermos estar informadas/os nos momentos de tomadas de decisão, atividades de autocuidado para prevenir doenças e manter a saúde e para melhor podermos planear o futuro.
  2. Envolvimento significativo. Exigimos que as pessoas idosas sejam incluídas na tomada de decisões sobre a resposta ao VIH, incluindo na definição de prioridades e metas, alocação de fundos e mensagens sobre o impacto do VIH no envelhecimento e nas pessoas idosas.

Nós - pessoas idosas que vivem com VIH - não somos um grupo homogéneo entre nem dentro dos países ao redor do mundo, pelo que esperamos que estas AÇÕES sejam implementadas de maneira equitativa e tendo em conta a interseccionalidade. Todos nós merecemos informações, cuidados, serviços e apoio personalizados e que tenham em conta a idade, que considerem o impacto de nosso estatuto de VIH, identidade de género, orientação sexual, cidadania, capacidades, etnia e local de residência, entre outros fatores.

É com grande urgência que nós, a Coligação Internacional de Pessoas Idosas com VIH (iCOPe HIV), instamos a todas as partes interessadas que trabalhem conosco para implementar estas AÇÕES sem mais delongas.

Versão original e subscritores neste link.