Encerramento de farmácias hospitalares em Lisboa alvo de contestação

24 Março 2023

O CAD Centro Anti-Discriminação VIH afirmou hoje em comunicado que discorda do encerramento das farmácias hospitalares no hospital de São José e Santo António dos Capuchos.

“Esta situação está a condicionar o acesso ao tratamento das pessoas com VIH, contribuindo para a falta de adesão à terapêutica e com possíveis graves consequências para a saúde individual e pública”, explicou João Brito, do GAT Grupo de Ativistas em Tratamentos, uma das duas organizações que compõem o CAD, adiantando que “até à data, registamos 48 queixas sobre dificuldades no levantamento de medicação, falta de acesso ao PDMP e interrupções de tratamento”.

No final do ano de 2022, o Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário de Lisboa Central (CHULC) decidiu encerrar as farmácias de ambulatório dos Hospitais de São José e Santo António dos Capuchos, sem aviso prévio aos doentes e aos profissionais de saúde. Esta decisão implica que os doentes em seguimento nestes dois hospitais tenham de deslocar-se ao Hospital Curry Cabral para levantar os seus medicamentos.

Ana Duarte, da Ser+ (Associação Portuguesa para a Prevenção e Desafio à SIDA), organização que também gere o Centro Anti Discriminação VIH, informou que “esta decisão motivou reações de desagrado dos doentes, pelas dificuldades no levantamento dos medicamentos, com a agravante do esgotamento do Programa de Dispensa Medicamentos em Proximidade (PDMP), e do incumprimento do Despacho nº 13447-B/2015, onde é dada indicação que a terapêutica antirretrovírica deverá ser dispensada para um período mínimo de 90 dias, o que justificou o contacto do CAD junto do Conselho de Administração do CHULC, por duas vezes, sem qualquer resposta formal até ao momento”.

Em comunicado enviado hoje à imprensa, Ana Duarte explica que “ao longo dos 40 anos da epidemia do VIH, fizemos, SNS e Organizações Comunitárias, um longo caminho na prevenção, acesso aos cuidados de saúde e promoção da adesão ao tratamento, para avançarmos no controlo da infeção por VIH. Portugal, comparativamente com outros países da UE, ainda está distante deste objetivo”.

O CAD defende que os doentes possam levantar os seus medicamentos no hospital de seguimento, onde têm a sua consulta e contacto com o seu médico, onde realizam as análises e exames complementares, sem necessidade de deslocação a outro hospital.

“Relativamente ao Programa de Dispensa de Medicamentos em Proximidade (PDMP) é inequívoco que existe um benefício para alguns doentes e, como tal, deverá acolher com equidade todos os que manifestem interesse em ser integrados neste programa, funcionando como alternativa ao levantamento de medicação na farmácia de ambulatório do hospital. Mas não é esta a realidade da situação que nos chega através do contato com os doentes”, adianta João Brito.

 

Alguns dos relatos (anónimos) recebidos pelo CAD:

“Tentei por diversas vezes obter essa informação de como posso levantar a medicação numa farmácia mais perto de minha casa que o hospital curry cabral e ninguém sabe dizer, mesmo tendo passados meses de ter começado essa modalidade”

“Foi-me apresentada alternativa de levantamento em farmácia comunitária, contudo ao colocar essa questão no Hospital Curry Cabral foi-me dito que não teria direito uma vez que sou residente em Lisboa e não tenho nenhuma incapacidade de locomoção que me impossibilite de me deslocar ao Hospital. Na minha opinião este sistema deveria estar mais agilizado. Estou totalmente insatisfeito por terem fechado o serviço no Hospital dos Capuchos.”

“As alternativas foram apresentadas mas uma vez que resido em Lisboa não posso utilizar as farmácias comunitárias. Apresentei a situação por e-mail na primeira semana de janeiro/2023 e até ao momento não obtive resposta.”

“Estou completamente descontente com a medida tomada, afinal não foi levada nenhuma alternativa, nenhum sítio alternativo para recolher os medicamentos. Eu resido na Margem Sul e aproveitava as minhas consultas em Lisboa para levantar medicamentos. Agora, além de realizar a consulta nos Capuchos, preciso fazer uma viagem até o novo hospital. Lamentável!”

“A centralização destes serviços não faz sentido nenhum. Pessoalmente quando vou fazer as minhas análises e consultas aproveito e levanto ao mesmo tempo a medicação. Uma perda de tempo ter de me deslocar a outro hospital... e com certeza uma sobrecarga enorme no serviço do Curry Cabral.”

“É absurdo, para além de um horário que não é compatível com um horário de um adulto que trabalhe, fica muito longe do hospital de seguimento, e o tempo de espera é gigante. Tem de haver outra solução, rápida e eficaz para quem precisa destes medicamentos para sobreviver.”

“Quem pensou neste novo sistema de levantamento de medicamentos não tem consciência dos problemas, a saber: 1. Filas de espera num espaço sem condições! Sala sempre cheia, serviço muito demorado! 2. Privacidade = nenhuma!!! Os funcionários falam alto e na sala temos acesso a informações que deveriam estar protegidas! Exemplo para os doentes com HIV! Só faltava um carimbo vermelho na testa!!! 3. Ser tratado num hospital e levantar medicação noutro é próprio de países de outro mundo!!! 4. Existem doentes que se deslocam do estrangei (meu caso) , nunca sabemos o que nos espera! Se há stock ou não! 5. O “caixote” não tem distâncias seguras, os funcionários têm horários de atendimento pouco eficientes para o utente! Dou nota negativa a esta decisão, ouço muitos utentes descontentes e os funcionários pedem para enviar um e-mail, que sabemos que não vai dar em nada! Indignação!!!”